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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fa-mí-lia

Eu confesso que tenho inveja da família de alguns amigos e amigas minhas. Que às vezes, ao chegar em suas casas e vê-los encontrando pai, mãe, irmão, cachorro, tudo num mesmo ambiente, e entre risos e comentários corriqueiros, meu coração aperta. Tenho percebido também que em eventos como formaturas, casamentos, ou onde quer que haja uma homenagem aos pais, este é o momento que mais mexe comigo e quando o nó na gargante se faz presente.
Há pouco mais de dez anos vivenciei uma das experiências mais dolorosas da minha vida. Vi pai e mãe aos berros, ouvi coisas e vi detalhes que não convém tornar públicos e vi policiais entrando na casa onde vivi grande parte da infância, onde brinquei de mata com meu irmão, onde fui cheff de cozinha entre alfaces e repolhos com terra e minha prima. A mesma onde eu perseguia as formigas, onde adorava brincar quando era dia de lavar calçadas. A casa, antes branca com marrom, depois azul com branco, como se mantém até hoje. Aquela por onde, às vezes, ainda insisto em passar pela frente, não sei se numa atitude masoquista ou nostálgica, ou se ambas. 
Depois daquele dia, a casa nunca mais foi a mesma, tampouco a minha vida. Aos dez anos de idade, vi meu lar se desfazer, pai e mãe indo para lados opostos e eu ali, tendo que escolher qual seguir. Desde então, nesses dez anos e pouco, só lembro de ver meu pai, minha mãe, eu e meu irmão reunidos, juntos, uma única vez, e o clima não era dos mais agradáveis, pois só estávamos unidos para resolver um problema.
Eu acreditei, por muito tempo, que toda essa história, esta etapa e estas lembranças estivessem superadas. No entanto, com a proximidade de um evento no qual desejo ver meu pai e minha mãe na mesma platéia (não necessariamente lado a lado), tudo isso veio à tona. Pergunto-me como será a homenagem aos pais comigo. Questiono-me se precisarei me dirigir, primeiro a um extremo e depois a outro, entre a multidão, para poder abraçar os dois. Se serei a última a me sentar, devido a distância dos homenageados. Ou se eles farão um esforço e ficarão perto um do outro.
De qualquer modo, a formatura que se anuncia é mero detalhe, serviu apenas de estopim para a memória. Para esta - às vezes cruel - companheira que nos cutuca certas feridas, mostrando que ainda não estão completamente cicatrizadas e que a gente tem que se virar com elas, do jeito que der.



Priscila Bonatto

2 comentários:

Priscila Tonon Ramos disse...

essa coisa comeu meu recadooooo u_u
ahhh
então, deu vontade de chorar, tu escreveu de uma maneira bem comovente (?)
eu sei que não sou base u_u
pq choro por tudo.
Mas essa situação é bem complicada.
espero que eles façam sim uma força por vc :S
Imaginei vc brincando de cozinha :O
e hj falando: eu não sirvo pra isso xD
SHUAHSUAHUSHAUSHUAHS

Priscila's disse...

AHUAHAUAH pois é, pra vc ver como as coisas mudam xD eu nem sei se espero que eles se esforcem, pq aí eu saberei que eles não estarão nem um pouco a vontade e EU não vou ficar tbm. SEI-LA, seja o que eles quiserem :P é perê, vc é uma manteiga derretida. rdv mas até eu fico com vontade de chorar quando leio ¬¬ eu me admiro com a minha capacidade de ser comovente em cartas, textos e afins O= rdv PBONATTO