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domingo, 29 de agosto de 2010

Oposto

Invejo a honestidade que você tem consigo mesmo.
A capacidade de dizer as coisas soltas, sem medo.
De entender que determinados momentos são de tais jeitos e que passam, e de não transforma-los em tempestade.
Invejo a maneira como você age em público, a sua desenvoltura e simpatia, o seu jeito de fazer rir.
Tenho inveja do tanto de gente que você conhece e da facilidade com que faz amigos. A mesma com que você se adapta às situações e mudanças.
Invejo seu anseio por gente, por novidades, por diversão.
Sua tranquilidade, seu modo racional de ser, sua criatividade surpreendente.
Invejo sua espontaneidade, seu desenho tosco e original, sua ousadia.
Eu pareço, assim, medíocre? Se sim, não se engane.
Acho que o nome disso nem é inveja, mas admiração, e deve ser por isso mesmo que te amo.


Priscila Bonatto
O perdão é a representação mais nobre do amor.


Priscila Bonatto.

sábado, 28 de agosto de 2010

Comemorações

Ela desejava falar bem mais do que aquelas poucas palavras.
Havia uma briga interna, todas queriam sair,
empurravam as paredes da garganta buscando por um mínimo espaço rumo à liberdade.
Feche os olhos.
Respire.
 Inspire e espire.
"Vai passar logo", ele diz.
 Eu prometo.



Priscila Tonon Ramos
 Shhhh

Com ele você organiza suas ideias. 
Com ele você se perde em pensamentos.
Com ele você se sente confortada.
Com ele você se sente arrasada.
Com ele você vive.
Com ele você enlouquece.


Dona Tatu

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lágrimas e Nó na Garganta

Onde está a faca para que eu possa cortar esse nó na garganta?
Por que meus olhos me guiam literalmente até sua presença? Sempre! 
 Se eu soubesse que isso um dia me machucaria,  teria estipulado algumas restrições. 
Construiria uma pequena lista dos momentos em que não gostaria de vê-lo, sim, eu faria isso.
Me sinto estranha e confusa.
Sinto como se meu caminho estivesse cheio de pedras novamente.


Priscila Tonon Ramos
Estepe

Já vou avisando que qualquer semelhança com a vida real ou situações reais é mera coincidência.
Ana está indignada, são duas horas da madrugada e ela precisa desabafar. Pega a primeira caneta que vê pela frente e começa a escrever: 

"É difícil saber que sua existência ou sua ajuda se transforma em segunda opção, não é? Segunda, terceira, quarta ou quadragésima segunda. Os revoltados talvez pensem: se é pra ser assim que nem aconteça. É uma boa idéia.
É mais ou menos aquela necessidade por conversar em um bate papo ou messenger: são quatro horas da madrugada, você percorre os contatos ou os nicks, hmm tem fulano online, faz tempo que não conversamos mas acredito que não terá problema em perguntar se está frio, quente, se ainda está vivo ou morreu e deixou o messenger aberto (pouco provável, eu sei). 
Pior que tudo isso é a situação formal e desconfortável que muitas pessoas vivem, por não conseguirem executar o tão sonhado desapego pessoal e afetivo. Você sabe que aquela pessoa só te procura quando está chateada, ou quando resolve te procurar, que a última coisa que ela/ele faz é falar contigo, ela/ele deve olhar pro seu nick colorido ou para seu subnick triste e pensar: porque não? Mas mesmo sabendo que a conversa só vai acontecer se ele ou ela desejar, você não consegue parar de esperar ou que do nada aquela janelinha suba com um tímido "oi". 
Deveriamos abrir as asas e dar um chega pra lá em determinadas situações, deveriamos, mas me diz, quem consegue? Você desapega de um pedaço também, você quase arranca uma memória agradavél. É um pedaço ruim que te faz muito bem. 
Aí você, tentando encontrar uma desculpa para continuar ciscando nesse terreiro, pensa: e se ele precisar de mim e eu cortar literalmente todos os laços? Como vai ser? O que ele vai fazer? Como vai ficar? Que engano, ele nunca mais vai precisar de você exceto se for para tapar algum buraco. Pensando assim as coisas acontecem mais rápido.
Invejo aqueles que possuem um dom incrível em esquecer ou uma péssima memória, tanto faz. Porque a idéia que passam é de alguém descolado e desapegado no melhor estilo "já superei".
Nós nos enganamos demais e esperamos que do nada uma luz divina mude toda a história. Mas o que me anima é que um dia você cansa, um dia tudo isso começa a perder o sentido e você percebe que não existe fundamento em determinadas situações, no caso a de "estepe". Por isso, não se desespere, ainda tem salvação.
E por fim, tenho apenas uma dica para quem compartilha desta situação, quando uma voz misteriosa gritar um "CHEGA" no seu ouvido, é melhor obedecer."

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Divã

Oi. Então, tô aqui pra te contar umas coisas. Um desabafo, como dizem por aí. Você já deve estar acostumado.
Antes de vir parar aqui, nessa sua sala bem iluminada com paredes verde-claro, poltrona confortável e plantinhas sobre a mesa eu estava em casa - o senhor preste bem atenção nessa última palavra, eu acho que ela é importante.
A primeira coisa que fiz após acordar e antes de vir pra cá foi tomar banho. Lá começou a guerra com o chuveiro. Ô povinho miserável esse que presta serviços em casa, tu não concorda? Lá em casa (ó, de novo) já aconteceu muito: empregada que combina que vai ficar com a gente e aparece só uma vez, pintor que nunca dá as caras, gente que vai consertar geladeira e some com ela por bem mais tempo do que o previsto, e assim por diante. A última vez, como eu ia contando, foi com o chuveiro. O cara enrolou a gente até aparecer, aí um belo dia veio aqui, meu avô o acompanhou (sim, eu moro com os meus avós, anote isso também) e o homem "arrumou" o objeto problemático. Só que desde então cada banho que eu tomo (logo pela manhã) tem sido uma tortura! A minha querida ducha está toda desregulada, de modo que passa o tempo todo em que estou sob a dita cuja esquentando e esfriando a temperatura absurdamente, além de alterar a intensidade da água conforme vontade própria. Logicamente que hoje de manhã não foi diferente. E eu gritei, doutor, eu berrei sozinha debaixo daquele monte de gotas. Não que eu seja doida, você, um cara estudado, sabe que qualquer pessoa normal faz dessas coisas, né? A minha avó até veio bater na porta, inutilmente, óbvio, porque eu não ouvia muita coisa (que idéia a dela!). Tá. Aí, depois desse banho relaxante eu fui tomar café. Mas antes que eu chegasse à cozinha, comecei a ouvir aquele som bem cotidiano, diário, frequente, CONSTANTE: padres, corais, fiéis cantando em coro, essas coisas. E não pense que era uma procissão. Era na televisão. Como acontece todo dia, em vários horários. Missa, missa, e mais missa. Talvez seja alguma espécie de castigo pelo fato de eu ser atéia. Além das missas imperarem dentro de casa, o volume da TV é algo do qual eu não posso fugir. Se eu me refugio no quarto, ouço ao longe as cantorias e pregações. Silêncio é uma coisa rara. Até porque, se não é missa, é programa policial, o senhor imagine! Mas como eu ia dizendo, além da costumeira missa, ouvi meu avô me chamando, perguntando o que acontecia no chuveiro. Expliquei e ele, como se dissesse que eu estava inventando, insistia em afirmar que estava ao lado do encanador quando o conserto foi feito e que ele havia mexido em locais que não interfeririam no que eu relatava. Teimosia de gente idosa. É melhor deixar pra lá antes que se enlouqueça. Bom, aí, depois de mais esse momento zen, fui enfim tomar meu café, que foi levado para o quarto, numa tentativa de ouvir o menos possível a barulheira da tv. Aí eu fico pensando, né, doutor, será que o stress que eu venho sentindo, essa impaciência toda, essa ansiedade e irritação, tem alguma coisa a ver com a minha casa?


Priscila Bonatto

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Confuso

- Hey, isso é bem foda!
- Não, se fosse foda seria bom.
- É, tem toda razão.
- O que? Safadinha.
- Qual é? Você falou sobre isso primeiro, não vem me chamar de safada não eihm?!
- Ah é...mas sabe, não é? Eu sou um pervertido sem recuperação.
- É, isso é mesmo, tem razão.
- Não era para você concordar. *cai na risada*
- Ah meu Deus, não me confunda. Me desculpe então.
-Ahm, sem problema, já esta tudo resolvido. *emoticon pervertido*


Priscila T. Ramos


Participação especial do manolo xD

domingo, 22 de agosto de 2010

Episódios III
Pegadinha do Malandro

- Mas você ainda está aqui? Anda, vai lá preparar o narguilé pra gente fumar!
Sem muitas alternativas, lá se foi ele, para a cozinha, obedecer as ordens da mocinha.
Ela, satisfeita, distraía-se no computador enquanto esperava.
De repente, o rapaz entra no quarto a chamando. Quando ela se vira para ver o que é que há ele lhe dá uma esguichada de água na cara, com uma daquelas arminhas de criança.
- Ahaaaaaaa, pegadinha do malandro!
- Ahhh! Seu viado!
Deu mais algumas esguichadas e saiu correndo, ficando escondido atrás da porta, de onde, às vezes, ainda tinha a petulância de atirar mais água.
Ele me paga”, pensou consigo mesma. Esperou que ele voltasse à tarefa de preparar o fumo e, quando percebeu que já estava distraído, pegou a arminha, caminhou silenciosamente até ele e gritou “Ahaaaa, pegadinha do malandro!”, molhando-o todo, às gargalhadas, e se vingando daquela atitude abusada (porém engraçada, tinha que admitir). Han!

Priscila Bonatto

sábado, 21 de agosto de 2010

Diálogos I

- Olha só o tamanho daquele buraco, que coisa bizarra!
- Que buraco, Bernadete?
- Ali ó, saindo fumaça.
- Ah, a descarga, Bernadete, o escapamento.
- Sei lá, pra mim é um buraco. Eu nunca tinha reparado que atrás dos ônibus haviam esses buracos enormes e negros. Você já?

Priscila Bonatto
Monólogo de um Sábado a tarde

As vezes eu acho que esses obstáculos e empecilhos que aparecem em determinadas situações são apenas alguma divindade dizendo: O garota, não está vendo que não vai dar certo?
Eu já estou ficando com medo de tentar, com medo de que realmente seja uma guerra perdida e que eu seja idiota demais em acreditar.
Meu dia estava ótimo (pegadinha do malandro) então resolvi morrer um pouco, me joguei no sofá e compartilhei com a casa vazia alguns gritos e litros de lágrimas. 
Hmm, me diz, você já chorou de verdade? 
(Qual é? Estamos em uma conversa informal, pode ser sincero comigo, sinceridade é uma dádiva e eu preciso conversar).
Aquele choro que vem da alma, sabe? Aquele que você não controla e que quase te sufoca em meio a soluços e nariz escorrendo. Pois então, esse foi meu choro e ao longo desse texto tenho certeza que ele vai chegar do meu lado para mais algumas rodadas. 
Uma barra de chocolate ao lado, coca-cola e um pacote de bolacha, que maravilha não é? Meu maior problema é sem dúvida recorrer à comida como válvula de escape para minha ansiedade, mas quer saber? Não tem coisa melhor que um pouco de chocolate pra curar um dia mais ou menos.
Tudo isso que faço ou que sinto, é algo velado e escondido, pois, tento passar uma imagem de "está tudo bem galera, eu já superei" mas não, eu não superei e me pergunto se algum dia vou superar. 
Algumas pessoas me dão bons conselhos sabe?
"Você tem que querer superar", concordo
"Você tem que se ajudar", concordo também
"Troca o foco", boa idéia.
Recorri à TV achando que poderia haver algo bacana, sei lá, algum filme interessante ou até o canal do boi talvez. Nadinha, nada de bom passando lá,  mas olha como as coisas são, na busca de algo acabo caindo no programa do Raul Gil onde o Buchecha cantava "Fico assim sem você", claro alguém estava sacaneando comigo. Mais alguns minutos e uma menina começa a cantar Who Knew da Pink, aí foi a gota d'agua, porque essa é exatamente "a música" que me faz remoer tudo isso. Já leu a letra? Não? Aconselho que leia, é bacana. Iincrível como algumas músicas se encaixam perfeitamente em determinadas situações e essas mesmas músicas acabam com seu humor, porque você é masoquista e vira e mexe vai dar um jeito de colocá-las para tocar.
Eu não sei, sinto que o ser humano se agarra de uma forma tão intensa em determinas coisas que não percebe quando está nadando contra a corrente ou, não quer perceber
Me disseram que eu gosto de sofrer, mas talvez não me entendam muito bem, nesse sofrimento eu encontro minha redenção, porque só lembro das coisas boas (e ruins) quando sofro, se estou feliz a lembrança some e eu quero lembrar eu não quero que tudo desapareça.
E agora, ainda com os olhos inchados eu recorro ao blog como uma segunda válvula de escape (já que não consegui comer todo o chocolate).
Nessas horas uma máquina do tempo seria de grande ajuda, eu poderia ir direto para o dia em que as coisas estivessem bem resolvidas e mesmo que uma figura não estivesse presente, tenho certeza que eu já teria me acostumado a viver sem.

Priscila T. Ramos




OBS: Peço desculpas se esse texto não se enquadra no blog, mas eu precisava escrever sobre.
PB, ainda não revisei, quando eu voltar ajeito os erros  e a pontuação então não brigue comigo u_u

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Prazos

Eu teria me sabotado.
Mas, naquele instante tive medo e vesti novamente minha armadura de orgulho.
As vezes é necessário fechar os olhos, mas não se engane, enquanto sua mente enfermeira lhe dá uma paulada de pura realidade, seu coração dispara sob a pele sinalizando que ainda não acabou. 
Isso dói, dói demais, mas infelizmente possuimos uma alma masoquista ou esperança em excesso, aí nos obrigamos a reviver momentos e rever pessoas. 
Tudo isso porque certas coisas não se enquadram muito bem em prazos de validade.

Priscila T. Ramos

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

EPISÓDIOS II
Como vão os seus ossinhos?

Meia noite e treze.
Acabara de ser despachada pelo namorado que, sonolento, não lhe dera trela ao telefone.
Nada do sono.
Escuro.
Matuta com seus botões o que pode fazer e aí lembra-se de uma amiga e pensa que, como dizem por aí, amigos são pra essas coisas mesmo, inclusive para compartilhar a insônia.
Procura o número daquela a quem apelidou “carinhosamente” de Vaca Tetuda no celular e disca, pouco se importando com o horário ou com a possibilidade de acordá-la.
- Alô (um alô meio desconfiado).
- E aíííí! Tô com insônia.
Obviamente, levando-se em conta que a pessoa do outro lado não estava dormindo, o que se seguiu a essa frase foram risos.
Papo vai, papo vem, entram naquele assunto.
- Como vão os ossinhos do seu pescoço?
- Vão bem, felizes!
- Mas eu não entendi bem que ossos são esses. São esses abaixo do queixo? Onde tem um buraco?
- Isso! Eu não os sentia antes! E tem mais: agora eu sinto a minha coluna! E os ossinhos perto da barriga.
- Mais? Vaca Tetuda, eu nunca reparei nesses ossos. Deixa eu ver. São esses, assim, meio que na cintura? Indo pra virilha?
- Isso!
- Ah, tô sentindo! Tô sentindo! Nossa, que emoção! Você está me fazendo sentir ossos que eu nunca tinha sentido!
Risos e mais risos.
- Olha, pensando bem, essa conversa está meio lésbica. Essa coisa aí de ficar fazendo eu sentir os meus ossinhos. Você aí, me conduzindo e eu aqui, debaixo das cobertas, semi-nua, passando a mão pelo corpo em busca de ossinhos desapercebidos.
- É, você tem razão, vamos mudar de assunto. Hum. Você não está com sono?
- O que? Você por acaso está me despachando?
- Nãããão, eu não quis ser indelicada.
- Ah, tudo bem (superior), eu tô com sono sim. Até amanhã.
- Até.

Priscila Bonatto

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

TPM


Ela larga a colher ao lado do prato, descansa seus cotovelos sobre a mesa, olha fixamente para ele e inicia a discussão:
- Sabe? Odeio quando seu humor azedo estraga o meu café da manhã. Não sei se realmente te amo. Ah, tem mais uma coisa, você sabia que me irrita demais?
Ele levanta os olhos fitando o teto, abocanha mais um pedaço do omelete e sorri.
Ela, indignada com o silêncio de seu parceiro, leva as mãos ao rosto (como se pudesse organizar os pensamentos) enquanto morde os lábios para reprimir o choro.
Depois de alguns minutos de silêncio ele levanta, a puxa pelos punhos e lhe dá um longo abraço enquanto sussurra em seu ouvido:
- Você sabe que não me amaria se eu fosse diferente do que sou.
Ela sorri no aconchego daquele abraço e termina a discussão matinal:
- É, você tem toda a razão.








Priscila T. Ramos
Fa-mí-lia

Eu confesso que tenho inveja da família de alguns amigos e amigas minhas. Que às vezes, ao chegar em suas casas e vê-los encontrando pai, mãe, irmão, cachorro, tudo num mesmo ambiente, e entre risos e comentários corriqueiros, meu coração aperta. Tenho percebido também que em eventos como formaturas, casamentos, ou onde quer que haja uma homenagem aos pais, este é o momento que mais mexe comigo e quando o nó na gargante se faz presente.
Há pouco mais de dez anos vivenciei uma das experiências mais dolorosas da minha vida. Vi pai e mãe aos berros, ouvi coisas e vi detalhes que não convém tornar públicos e vi policiais entrando na casa onde vivi grande parte da infância, onde brinquei de mata com meu irmão, onde fui cheff de cozinha entre alfaces e repolhos com terra e minha prima. A mesma onde eu perseguia as formigas, onde adorava brincar quando era dia de lavar calçadas. A casa, antes branca com marrom, depois azul com branco, como se mantém até hoje. Aquela por onde, às vezes, ainda insisto em passar pela frente, não sei se numa atitude masoquista ou nostálgica, ou se ambas. 
Depois daquele dia, a casa nunca mais foi a mesma, tampouco a minha vida. Aos dez anos de idade, vi meu lar se desfazer, pai e mãe indo para lados opostos e eu ali, tendo que escolher qual seguir. Desde então, nesses dez anos e pouco, só lembro de ver meu pai, minha mãe, eu e meu irmão reunidos, juntos, uma única vez, e o clima não era dos mais agradáveis, pois só estávamos unidos para resolver um problema.
Eu acreditei, por muito tempo, que toda essa história, esta etapa e estas lembranças estivessem superadas. No entanto, com a proximidade de um evento no qual desejo ver meu pai e minha mãe na mesma platéia (não necessariamente lado a lado), tudo isso veio à tona. Pergunto-me como será a homenagem aos pais comigo. Questiono-me se precisarei me dirigir, primeiro a um extremo e depois a outro, entre a multidão, para poder abraçar os dois. Se serei a última a me sentar, devido a distância dos homenageados. Ou se eles farão um esforço e ficarão perto um do outro.
De qualquer modo, a formatura que se anuncia é mero detalhe, serviu apenas de estopim para a memória. Para esta - às vezes cruel - companheira que nos cutuca certas feridas, mostrando que ainda não estão completamente cicatrizadas e que a gente tem que se virar com elas, do jeito que der.



Priscila Bonatto

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Visita

Eu não tenho medo em deixar minhas janelas e portas abertas, sabe? 
Gosto de fitar as cortinas que dançam com o vento de um fim de tarde,
pois, quem sabe ele me ouve e sussurra em seu ouvido:
"ela sente a sua falta".
Vem, uma visita não tomará muito de seu tempo.
Se vier, prometo fechar as portas, mas não as janelas.


Priscila T. Ramos
Pensando na vida


Eu tenho umas crises existenciais de vez em quando. Das mais normais às mais extraordinárias. Esses dias me peguei discutindo com meu namorado sobre a existência do mundo, da sociedade, da Terra e da possibilidade de outras vidas e outras civilizações – se é que assim se chamam. E da possibilidade de nunca ter surgido nada, de não existir nada, de nós mesmos não existirmos. Nada. Na-da. Como seria? Eu imagino branco. Um branco total e absurdo. Vazio absoluto. Vida zero. Pra que existe o mundo afinal? Eu sou meio cética. Em Deus não acredito. Então, sei lá, não tenho muitas opiniões formadas a respeito (grande conclusão!).
Mas, tá, não é dessas crises absurdas que eu quero falar. É das mais comuns, que devem atingir a maioria das pessoas. Eu tô com vinte e um anos. O que não é muito, eu acho. Mas sinto que é hora de engrenar em alguma coisa, se é que você me entende. Desapegar do papai (ou do dinheiro do papai, mais precisamente) e começar a pensar em uma vida independente. Isso é super clichê, né? Mas é assim mesmo. De repente essa idade cai como um peso, como um puxão pra realidade. Poderia ser aos dezoito, aos vinte, enfim. Mas para mim está sendo agora. Vejo as pessoas ao meu redor “criando suas famílias”, casando, tendo filhos e parece que estou ficando para trás. O problema é que não sonho com nada disso e aí está o dilema. Eu não sonho com casamento convencional, aliás, eu não acredito nele. Outra coisa: eu não tenho o menor instinto maternal, não acho graça em criancinhas e, portanto, não tenho a mínima vontade de ser mãe. E pra piorar, tenho uma visão pessimista do trabalho, como se, ao invés de um meio de crescimento, fosse um sangue-suga do meu tempo.
É estranho porque é fora do padrão, toda essa minha forma de pensar. A verdade é que até para mim soa esquisito. Principalmente porque um dia eu sonhei com amor eterno, com casamento, com chalé no campo (com filhos não), mas a vida me deu uns tapas na cara e eu acordei, dei um pulo de todo aquele sonho romântico e coloquei os pés no chão.
Eu não sei aonde isso tudo vai me levar, mas eu espero ter mente aberta. Eu espero casar, sim, mas de um jeito diferente. Espero ter um companheiro pra vida toda, mas não ser obrigada a dormir com ele todas as noites. Quero uma casa só minha (e dele), toda bonita e personalizada. E quero, principalmente, nesse momento, ter uma ideia milionária, porque querer colocar as garrinhas pra fora depois dos vinte e não ter condições para isso é triste!




Priscila Bonatto.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Realidade


Ela atende o telefone.
Reconhece a voz do outro lado da linha e pergunta, surpresa, se é sério.
O despertar responde:
- Não, era um sonho.
Tu...tu...tu...tu...




Priscila Bonatto 

domingo, 15 de agosto de 2010

Madrugada

Pensa, lê, ouve música, fica na internet, assiste filmes, seriados, novelas, conversa com o msn vazio, escreeeeve, chora muito, ri muito, come, canta, fala sozinha, fala não tão sozinha (olha pro lado), organiza todo o se quarto, brinca e inventa. Tudo isso em PAZ.


Dona Tatu
 Fuga

A Indiferença está lá, parada, cínica, linda,
tocando o ombro do Silêncio num gesto que diz:
"Está na hora".



Dona Tatu
Travesseiro de Lágrimas


Pelo menos hoje eu poderia dormir sem antes encharcar meu travesseiro.
O pobre deve estar chateado por ter que aguentar calado tantas lágrimas e lamentos.
(peço desculpas, é incontrolável). 
Porque no momento em que o silêncio se faz presente,  minhas dores aparecem para desejar uma boa noite regada por lembranças amargas.
Então, como se fosse uma torneira mal fechada, minhas gotas de dor começam a cair e meu pobre companheiro vela meu sono para que pelo menos por algumas horas tudo fique bem.


Priscila T. Ramos

sábado, 14 de agosto de 2010

:: Off ::

Ah, eu posso badernar um pouco isso aqui, confundindo o blog com um diário e postando algo que fuja a regra dos textos prontos, bem acabados e bonitinhos?
Péra lá, eu to pedindo permissão poooooor que? O meu 1/3 de sociedade nisso aqui permite!
Oooook.

Eu fico pensando, o que será que a Tonon ou a Dona Costa estão fazendo agora?
E também outras pessoas. Quem nunca se pegou pensando nisso?
Vou levantar hipóteses, depois vocês dizem se acertei alguma *-*

Sábado, 14/08, 10:04

Dona Costa deve
a) estar dormindo
b) estar estudando(em casa) ou lendo
c) estar comendo
d) estar cavando um buraco 

Tonon deve
a) estar dormindo (rdv, também, só eu que não estou)
b) estar tirando fotos
c) assistindo tv ou algum filme
d) estar gravando o cd com os vídeos pra mim

Não me deixem sem resposta u_u Eu acho que estou afim de esculhambar um pouco isso aqui. Fazer uma espécie de chat. rdv. Depois isso passa, gente, relaxem, é só o tédio.

Ah, vocês querem saber o que EU estou fazendo?
Bom, estou sentada numa cadeira azul estofada, localizada em uma das muitas salas de aula da Uniplac. Última aula de "contexto e organização do discurso", para minha imensa alegria. No período vespertino eu nem vou comparecer. Já apresentei a minha resenha crítica (fui a primeira a apresentar! u_u mas não a melhor, rdv). Meu capuccino (cof cof) acabou de acabar e ainda restam duas bolachinhas no pacote, minha fome cessou. Meus pés estão congelando. 


Priscila Bonatto

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

WAR

O ataque era sua unica defesa.

Priscila T. Ramos


13


Ela tinha medo de olhar embaixo da cama, ver fantasmas, extraterrestres, de dormir depois de algum filme de terror ou de ouvir barulhos estranhos. 
Hoje, ela continua com medo de olhar embaixo da cama e de enfrentar os monstros e fantasmas que aparecem em sua vida.




Priscila T. Ramos
Trégua


Calor é algo que não me aquece apenas o corpo, mas a alma.
Eu saí de casa cheia de roupa - e quando eu digo cheia, é cheia mesmo.
Meia calça fio 80, calça jeans, outra meia por cima (para segurar a calça, que seria enfiada numa bota), uma blusinha de lã, mais uma, e mais uma, e por fim um casaco que ia quase até o joelho.
Em algumas horas, no entanto, tudo isso se transformou em exagero, já que a temperatura subiu um bocado (para minha alegria, diga-se de passagem).
Dias quentes me deixam bem-humorada. O clima entre as pessoas é outro (ou eu acho que é, porque assim acontece comigo). O balançar das folhas de árvore é gostoso, o vento é agradável, o próprio abafamento que se sente no rosto é uma delícia! E aquele céuzão azul? Ô beleza!
Pena que isso, hoje, é uma excessão, já que estamos no meio de agosto e em breve os casacões serão requisitados de novo.

Comi grão-de-bico na casa da mamãe ao meio dia, acompanhado de feijão e arroz feitos por ela. Que maravilha! Para quem come marmita todo dia, isso é o paraíso. Aliás, mesmo para quem não come, comida de mãe, é comida de mãe.


Dizem que grão-de-bico melhora o humor.
Acho que devo almoçar mais vezes com minha querida genitora, já que vou ter que aguentar ainda alguns meses de inverno mau humorado pela frente.



Priscila Bonatto 

Esqueça

“Esqueça, se ele não te ama. Esqueça, se ele não te quer.”
Assim começa a música “esqueça”, da Marisa Monte, cujas frases me fizeram lembrar de duas coisas.
A primeira é uma situação que vem acontecendo comigo recentemente: ser esquecida por alguém. Mas ser esquecida literalmente, inclusive de ser avisada e de ganhar ao menos um “tchau, não quero mais saber de você”. Dói ver que quem antes lhe declarava uma grande e eterna amizade não teve sequer o trabalho de olhar para trás e dizer adeusinho. Ver que as relações humanas são absurdamente frágeis, que infelizmente não dependem só de um, mas do outro também, e que quando este cansa ou desaparece sem deixar rastros ou motivos, não se tem o que fazer. A não ser, seguindo o conselho da dona Marisa, esquecer – se isso for possível (o que normalmente não é, quando se gosta realmente da fulana ou do fulano, que provavelmente deixou marcas importantes no nosso próprio modo de ser e, consequentemente, na memória).
A segunda lembrança foi referente a uma foto que fiz há cerca de um ano, cuja composição mostrava metade de uma xícara sobre um pires e, sobre este, a conhecida tecla “delete”. Era só e creio que bastava. Estava li o desejo de deletar não um arquivo digital, mas uma pessoa, alguns anos e principalmente os momentos, além de mostrar o anseio desesperado por qualquer coisa que aliviasse a difícil digestão de uma decepção repentina. Era o retrato da vontade de esquecer instantaneamente, sem ter que esperar o tempo passar, pois ninguém quer conviver com lembranças dolorosas e nem carregar na memória (e na saudade) uma pessoa que se foi por livre e espontânea vontade.
Queremos é esquecer já! Queremos que quem não nos ama, quem não nos quer, vá pro raio que o parta e leve consigo qualquer vestígio de sua existência em nossa humilde vidinha.




Priscila Bonatto
Começa com D

O que é, o que é,
que não é amor
mas faz brilhar os olhinhos
e na boca um sorriso se estampar?

Priscila Bonatto